Sal

Postado por David W. sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
História: "O sal nasceu com a vida": a constituição das camadas geológicas subterrâneas do nosso planeta mostra que o sal apareceu nos depósitos mais recentes da crosta da Terra, tornando-se mais abundante à medida que a vida se organizava. Seu uso vem de tempos remotíssimos, sendo mencionado nos documentos mais antigos da humanidade. Sua importância perante os primeiros povos lhe deu lugar nos sacrifícios religiosos e também fez dele um símbolo de união e hospitalidade. Para transportá-lo das fontes de extração para os lugares afastados abriam-se estradas especiais: pela Via Salária, faziam os albinos virem o sal que consumiam. Nos primeiros tempos da civilização, quando não havia a moeda como instrumento de valor e troca, usava-se a pitada de sal como expressão de valor. Na África e Ásia, usavam sal de rocha ou sal-gema. Seu valor era tão grande que era com ele que se pagavam os soldados romanos, remunerados com o "soldo", isto é, o sal, na época uma comodidade rara e difícil de conseguir, de onde vem a palavra "salário" e também a própria palavra "soldado", usadas até hoje.

Definição: A definição comum do cloreto de sódio, o sal é um corpo produzido pela substituição total ou parcial do hidrogênio ácido por um metal ou por um radical básico. Nossos corpos precisam dele. A Organização Mundial de Saúde (WHO-OMS) recomenda uma dose diária de até 5,5 gramas de sal, o equivalente a uma colher de chá, nunca mais do que isso. O homem pré-histórico obtinha a sua dose graças à carne crua de suas caças. Foi a passagem para a agricultura e para uma alimentação à base de grãos que introduziu a necessidade de um complemento. O sal teve grande impacto também na história das civilizações: graças ao seu poder de conservar os alimentos, ele facilitou a sobrevivência e a mobilidade das populações. Desde a antiguidade, pescadores já sabiam salgar o peixe para armazená-lo, tornando-o acessível longe do mar e durante o ano inteiro.

Nos rituais: O sal está presente em rituais religiosos de diversas épocas e civilizações. Foi usado por gregos, romanos, asiáticos e árabes. Mas talvez nenhuma tradição lhe tenha dado tanto destaque quanto a judaico-cristã. O Antigo Testamento menciona o sal com frequência, ora no contexto da vida prática, ora simbolicamente. Sal significa, por exemplo, pureza e fidelidade. Mas é no Novo Testamento que a menção ao sal torna-se metafórica, quando Jesus diz: “Vós sois o sal da terra”.

No Batismo: Até o início da industrialização e em diferentes civilizações, o sal na mesa significou prestígio, orgulho, segurança e amizade. A expressão romana para exprimir a infidelidade a uma amizade era: “Trair a promessa e o sal”. Desde aqueles tempos, a ausência de um saleiro sobre a mesa representava um certo presságio, tanto quanto o sal derramado. Ao pintar sua famosa “Santa Ceia”, Leonardo da Vinci tratou de colocar diante de Judas um saleiro derramado.
Lutero aboliu o sal do ritual de Batismo na religião protestante, no século 16, mas o seu uso perdurou no batizado católico até 1973, simbolizando a expulsão do mal e como um sinal de sabedoria sobre o recém-nascido. Ainda hoje, as batatas e ovos cozidos servidos no Pessach, a Páscoa judaica, são regados com água salgada que simboliza as lágrimas derramadas pelos judeus na travessia do deserto, durante a fuga do Egito.

Nas crendices populares e superstições: Daí ao folclore e às lendas populares, foi um pulo: o sal acabou por se tornar um ingrediente obrigatório para afastar demônios e feitiçarias... No Brasil, o tal "banho de sal grosso" pode ser uma expressão para designar proteção contra a inveja e o "mau-olhado". Recipientes com sal e uma cabeça de alho podem ser vistos com frequência não apenas nas casas, mas também no comércio, escritórios, etc...

Segue uma explicação do século 16 para os poderes anti-diabólicos do sal:
“...ele é a marca da eternidade e da pureza, porque jamais apodrece ou se corrompe. E tudo o que o diabo procura é a corrupção e a dissolução das criaturas, tanto quanto Deus doa a criação. Daí a obrigação, pela lei de Deus, de colocar sal na mesa do santuário…”
De um demonólogo francês anônimo

Diversos povos da antiguidade atribuíram ao sal poderes afrodisíacos e alguns acreditavam que a sua carência reduziria a potência sexual e/ou a fertilidade masculina. Uma gravura satírica francesa do século 16 mostra mulheres de diversas classes sociais numa atividade insólita: debruçadas sobre maridos sem calças, que esperneiam, aprisionados em barris, enquanto elas esfregam com sal, vigorosamente, suas partes íntimas.

Até hoje é grande o número de lendas e crenças em torno do sal. Algumas delas:
  •  O saleiro passado de mão em mão a outra pessoa da mesa traz má sorte. Algumas pessoas nunca entregam o saleiro, mesmo que você pedir. Elas o colocam de volta na mesa, e quem quiser que pegue. No Brasil, os mais supersticiosos recomendam que o sal nem seja levantado da superfície da mesa. Então, usa-se um recipiente grande e você se serve com um colherinha. Nos Estados Unidos, existe o ditado “passe-me sal, passe-me sofrimento”;
  • Jogar sal afugenta os vampiros;
  • Usar um saquinho de sal pendurado no pescoço afasta os maus espíritos;
  • Derrubar sal traz má sorte, a menos que se jogue uma pitada por cima do ombro direito;
  • Para afastar maus espíritos, joga-se sal por cima do ombro esquerdo;
  • Cada grão de sal derrubado equivale a uma lágrima. Para evitá-las, leva-se imediatamente o sal derrubado para uma panela no fogo. Isso bastará para secar as lágrimas;
  • Emprestar ou pedir emprestado o sal (ou pimenta) destrói a amizade. É melhor oferecê-los e aceitá-los como um presente;
  • No oriente médio acredita-se que quando duas pessoas comem sal juntas, formam um vínculo. Por isso, usa-se sal para selar um contrato;
  • No Havaí, a pessoa que volta de um funeral polvilha sal sobre si mesma, para garantir que os maus espíritos que por acaso rondassem o defunto não a acompanhem em casa;
  • No Japão, espalha-se sal no palco antes de uma apresentação de teatro, para evitar que maus espíritos joguem pragas sobre os atores;
  • Em muitos países espalha-se sal na ombreira da porta de uma casa nova, para impedir a entrada de maus espíritos.



0 comentários

Postar um comentário

Blogumulus by Roy Tanck and Amanda FazaniInstalled by CahayaBiru.com